Reportagem
|
Maria Frederica Valsassina
Educada num ambiente eclético, cultiva o gosto pela música e bailado clássicos, pela literatura francesa e pelas viagens. Conhece a Europa, de Espanha à Rússia, e é frequência assídua nas salas de espectáculo de Paris e Viena. No final da década de 1940 tira a carta de condução, integrando o grupo das primeiras mulheres a conduzir em Portugal. Marcada por um temperamento obstinado soube dar continuidade ao projecto educativo do Valsassina iniciado pelo seus pais e passar a sua responsabilidade para as gerações seguintes. |
|
Conheça o Livro de Homenagem a Maria Alda e Maria Frederica aqui.
Apontamentos BiográficosMaria Frederica Duarte Montecembra Valsassina Heitor nasce a 14 de Novembro de 1908 na Maternidade de Santa Bárbara, em Lisboa. No ano do seu nascimento é fundada a Escola Moderna em Benfica. Recebe uma instrução cuidada sob o magistério dos seus pais. Faz o seu percurso escolar na modalidade de ensino doméstico e frequenta a classe de violino no Conservatório Nacional. Passa os meses de verão em Sintra, onde o Pai dá aulas particulares e mantém animado convívio com a elite local, indo a banhos de mar à Praia das Maçãs.
Em 1925, após terminar o curso de liceus, colabora na Escola Moderna com a sua mãe dando aulas de Francês e Português e explicações no Ensino Liceal. « Nesse tempo [1925] , tinha já minha filha Maria Frederica completado o curso dos liceus e não abandonavam os pais o projecto de fazer outra tentativa para a formação duma escolha, desta vez em Lisboa. » Frederico César de Valsassina, in Colégio Valsassina - Uma História com mais de 100 anos Entretanto, a 25 de Abril de 1928, casa com Mário Lúcio da Silva Heitor com quem partilharia toda a sua Vida. Viajam por toda a Europa, sempre de automóvel até ao final dos anos 60 com visitas habituais á Feira de Sevilha, a Santiago de Compostela, a Paris, a Viena de Áustria e aos Jogos Olímpicos. Ao longo dos anos 60 fazem vários cruzeiros no Mediterrâneo com paragem obrigatória em Itália. No inicio de 70 visitam Praga, Budapeste e Varsóvia. Depois de várias tentativas, Moscovo, S Petesburgo e Kiev. Frequentam São Carlos e mais tarde as temporadas de música e de bailado da Fundação Gulbenkian.
Em 1930 nasce o seu primeiro e único filho - Frederico Valsassina Heitor que viria a dar continuidade ao projecto educativo iniciado em 1898. Em 1932 é inaugurada a "Escola Valsassina" na Av. António Augusto de Aguiar, primeiro no nº 130 apenas com Ensino Primário e Curso de Explicações do Ensino Liceal, e dois anos mais tarde no nº148 da mesma avenida e já com oferta de Ensino Infantil, Primário e Liceal para ambos os sexos; «nesse local "O Valsassina" iria crescer durante um quarto de século (1934-1959). « O corpo docente da escola [em 1934] era constituído por nós, directores, auxiliados por minha filha Maria e mais oito ou nove professores... (...) No fim do ano lectivo [de 1934] não havia dívidas, mas também não havia dinheiro para pagar as rendas de dois meses de férias (...) Não perdemos a coragem; uma obra tão bem começada não podia extinguir-se por falta de recursos. (...) ninguém reconhecia na Escola Valsassina um valor comercial. (...) Não desaninámos.» Frederico César de Valsassina, in Colégio Valsassina - Uma História com mais de 100 anos Maria Frederica desempenha funções lectivas como professora de Português e Francês que acumula gradualmente com funções administrativas. Assume entretanto a coordenação do internato e a gestão dos serviços de alimentação e de apoio ao funcionamento da Escola.
Em 1940, o fundador, Frederico César de Valsassina, na tentativa de aliviar as suas responsabilidades e perspectivando o futuro, atribui a Maria Frederica as funções de direcção pedagógica e confia no seu genro a direcção administrativa. Mário trabalhara durante 16 anos na Shell trazendo para o colégio «aqueles hábitos de trabalho, ordem e disciplina próprio dos ingleses». « No primeiro dia do mês de Dezembro de 1940 o meu genro e a minha filha passavam a fazer parte, por contrato particular entre nós [Frederico César e Susana Duarte] e eles, da direcção da escola, com a percentagem de 5% nos lucros para cada um deles e os ordenados mensais de 1200 e 600 escudos (...)» Frederico César de Valsassina, in Colégio Valsassina - Uma História com mais de 100 anos Ainda em 1940, é criada a Colónia de Férias do Valsassina nas Azenhas do Mar, inicialmente num casarão alugado que adquire em 1968, onde a partir de então passa todos os Verões até ao seu encerramento em 1978.
O seu pai, fundador e grande impulsionador do projecto "Valsassina" acaba por falecer em 1951 vitima de doença prolongada. No entanto, o projecto prossegue sem interrupções pelas mãos de Maria e Mário, a 2ª geração já há muito envolvida na gestão da Escola. Ainda em vida, Frederico César cumpre o «maior sonho da sua vida e a coroação do seu trabalho»: a 26 de Dezembro de 1948 foi comprada a tão desejada Quinta das Teresinhas e inaugurada uma nova escola em Outubro de 1950. « Era esse o local dos nossos sonhos dourados. Muitas tardes, depois de terminadas as aulas, eu e a minha mulher passeávamos por aqueles sítios (...) A Quinta está situada na Azinhaga das Teresinhas, a 116 metros de altitude, dominando quase toda a cidade e arredores. Tem uma bela casa, capela, grandes dependências agrículas, 31.500 metros quadrados de terreno e um campo de ténis. » « Meu sogro tinha previsto tudo! Minha sogra, sempre com muita coragem e uma grande fé, conseguiu equilibrar a sua saúde; minha mulher já era hà muitos anos Directora Pedagógica do Colégio Valsassina e todos nós, minha Sogra, minha mulher e eu, os seus proprietários» No período entre 1950 e 1959, a Escola Valsassina (entretanto renomeado Colégio Valsassina, em 1948) funciona em simultâneo com o Colégio Suzana de Valsassina, na Quinta das Teresinhas. Nesta fase, o Colégio volta a viver situações muito difíceis: quebra de alunos em quase 50%, abandono de alguns docentes e encargos financeiros com as obras nas novas instalações. É também nesta fase que entra em cena, Frederico Valsassina Heitor, filho de Mário e Maria Frederica, até aqui aluno do IST.
Em 1955, morre sua mãe Suzana e Maria Frederica assegura toda a gestão do colégio. Quatro anos mais tarde, dá-se a fusão do Colégio Valsassina - Av. Antonio Augusto Aguiar - com o Colégio Suzana de Valsassina já existente na Quinta. Outro ciclo teve inicio. Decide-se investir tudo nas novas instalações, no caminho do «sonho da criação de um grande Colégio». As matriculas ganharam novo fôlego e o projecto continuou. Maria e Mário iriam gradualmente passar o legado ao seu filho, Frederico. Em 1959, Frederico Lúcio assume então a Direcção Pedagógica do Colégio Valsassina, cargo que viria a ocupar até 1997. Nesse verão, Maria Frederica e Mário Heitor transferem a sua residência para a Quinta, onde viriam a habitar durante toda a restante vida. Têm 4 netos. Maria e Mário mantém a responsabilidade pela direção administrativa do Colégio e pelo internato até 1978. Após extinção do internato, em 1978, mantém funções na direcção administrativa, ficando com a responsabilidade pelo sector da alimentação. No conturbado período do pós 25 de Abril, o Colégio volta a deparar-se com inúmeras contrariedades, entre elas, o abaixamento significativo da frequência, a inviabilidade do internato e o encerramento da colónia de férias das Azenhas do Mar. Neste contexto, Mário Heitor viria a falecer a 13 de Fevereiro de 1977; a força e persistência de Maria Frederica impulsionaram Frederico e não deixaram o projecto "Valsassina" morrer. « Minha Mãe, que tinha sido dedicadíssima e passado muitas noites em claro [Màrio Heitor morre após doença prolongada] , demonstrou uma extraordinária força moral, ajudando-me a acreditar que seríamos capazes de continuar » Frederico Valsassina Heitor, in Colégio Valsassina - Uma História com mais de 100 anos Em
1983, João Valsassina, o 2º filho de Frederico e Marinela e neto de Maria
Frederica, termina o seu curso no ISG e junta-se à Direcção Pedagógica e ao
Conselho de Direcção, do qual já faziam parte a sua avó, pai e mãe.
Cumpre-se o desejo de Maria Frederica: a 4ª geração assegurava o legado.
« A minha avó tinha uma personalidade muito forte e marcou de uma forma decisiva quer a vida do Colégio quer a minha, pois tinha comigo uma relação muito especial e estreita. Constantemente me incitava a trabalhar no Colégio de forma a vir a ser um dos seus sucessores. Era para ela uma aspiração pessoal, em que muito se empenhou e que eu lhe retribuí. » João Valsassina, in Colégio Valsassina - Uma História com mais de 100 anos Morre a 23 de Fevereiro de 1994, aos 86 anos, em casa, na Quinta das Teresinhas em Lisboa.
|